segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vida de perfumista

Também chamado de “nariz”, este profissional combina ingredientes para criar novas fragrâncias. Descubra algumas curiosidades sobre a carreira


Foto:  Shutterstock
O processo de desenvolvimento de um perfume exige tempo e muita pesquisa (Foto: Shutterstock)













Data do século I um dos primeiros perfumes de que se tem notícia. Chamado de Le Parfum Royal, ele era usado pelos romanos como uma espécie de aperitivo olfativo antes das refeições. De lá para cá muita coisa mudou, os perfumes se popularizaram e o mercado de fragrâncias cresceu bastante, sobretudo nos últimos anos. Para se ter uma ideia, enquanto em 1985 foram lançados cerca de 100 perfumes, em 2009 mais de 900 novos nomes foram colocados no mercado.


Embora este número seja grande, é importante lembrar que o processo de desenvolvimento de um perfume é bastante longo. Hoje em dia o produto tem público-alvo, horário e ambientes ideais de uso e uma série de outras características que exigem um estudo aprofundado por parte dos fabricantes. Depois da pesquisa vem a elaboração do aroma propriamente dito. Para isso, em geral as empresas contratam casas de fragrâncias que, baseadas nas necessidades dos clientes, desenvolvem os perfumes.

+ Teste: com que tipo de perfume você combina?

Por trás da concepção de um cheiro está o perfumista, também chamado de “nariz”. Profissional de olfato apurado, é ele quem combina os ingredientes e cria novas fragrâncias. São poucas as faculdades dedicadas à formação de perfumistas. As mais conceituadas são a Fashion Institute of Technology, em Nova York, e o Institut Supérieur International du Parfumet de la Cosmétique et de l’Aromatique Alimentaire, em Versailles, na França.

No Brasil não há opções tão específicas, embora o setor de higiene, beleza e perfumaria tenha movimentado por aqui cerca de R$ 63,5 bilhões em 2010, segundo a empresa de pesquisaEuromonitor International. Mas aos poucos a área ganha espaço dentro de instituições de ensino. Uma das iniciativas mais recentes sobre o tema é o curso de pós-graduação em Cultura do Perfume – Essência e Ciência, oferecido pela FASM (Faculdade Santa Marcelina).

As aulas, ministradas em parceria com a famosa casa de fragrância Givaudan e o Grupo Wheaton (fabricante de embalagens de cosméticos), têm o objetivo de preparar profissionais para atuarem no mercado de perfumaria no Brasil. A ideia é percorrer caminhos que vão da elaboração da fragrância até o pós-venda.

Vida de “nariz”

Recentemente o perfumista francês Pascal Gaurin esteve no Brasil para falar de sua experiência como co-criador do perfume Amó Amasso, da Natura. O produto foi desenvolvido junto comVeronica Kato, “nariz” da marca brasileira.

Gaurin já criou ou colaborou com a criação de fragrâncias como Eternity Love Calvin Klein, Liquid Karl by Karl Lagerfeld e Vera Wang for Men by Vera Wang. Atualmente ele é perfumista do americano IFF (International Flavors & Fragrances), uma das casas de fragrâncias mais importantes do mundo.

Aproveitamos sua passagem pelo país para falarmos um pouco sobre as curiosidades da carreira de perfumista. Veja a Entrevista abaixo.

Foto: Divulgação
O perfumista Pascal Gaurin (Foto: Divulgação)

Quando você descobriu que queria trabalhar com perfumes?
Eu sempre quis trabalhar com algo que envolvesse o mercado de luxo e o campo criativo. Quando eu tinha entre 17 e 18 anos li um artigo sobre o perfume Chanel e a indústria de perfumaria em geral. Naquela hora vi que queria trabalhar com isso.

Qual foi o primeiro cheiro que chamou sua atenção?
Isso é fácil! O cheiro do vinho dentro de uma taça. Essa é uma de minhas primeiras lembranças, pois quando criança eu costumava cheirar os copos antes de colocar água para ver se eles não tinham resíduos de vinho. Para mim, é um cheiro muito marcante.

Na sua opinião, que características deve ter um bom perfumista?
Um bom perfumista tem que ser meio masoquista, pois existe muita dor e frustração durante o processo criativo. Também é preciso paciência e muita humildade, isso é fundamental. No dia em que você achar que sabe tudo, você está acabado. Curiosidade também é importante, pois temos sempre que buscar coisas novas.

Você usa sempre os mesmos ingredientes em suas criações?
Alguns ingredientes são os mesmos, mas acho que parte do trabalho de um perfumista é buscar produtos novos. Não gosto de fazer sempre o que eu já sei que vai dar certo. Gosto das situações menos confortáveis, que você não pode controlar totalmente.

Mulheres e homens criam de modos diferentes?
Sim, porque são pessoas diferentes. Penso que todo mundo tem um jeito diferente de criar. Criação é o resultado do que você é, de suas experiências. Depende de sua sensibilidade, de sua educação, do ambiente em que você está. Há ótimas fragrâncias masculinas criadas por mulheres e vice-versa. Para mim existe apenas o bom criador e o criador que não é bom.

Há algum perfume que você gostaria de ter criado?
Vários! É muito difícil citar apenas um.

O que mudou na perfumaria desde que você começou até hoje?
Hoje se trabalha com mais concorrência e com segmentos específicos. Há mais preocupação com fatores como custo, gênero e toxicologia. Algumas pessoas dizem que as normas restringem a criatividade, mas eu não acredito nisso. Pelo contrário, você tem que se adaptar.

Você já teve medo de perder a criatividade?
Não. Qualquer coisa nova é capaz de me trazer uma ideia. É um estímulo constante. Fazendo um paralelo, se eu fosse um pianista, por exemplo, seria como se as teclas de meu piano mudassem constantemente.

Criativa

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